Sinais

Passamos a noite toda, da hora do banho até a de dormir, nos comunicando em sinais. Ele aprontou ontem, mas disse que hoje ia se comportar na hora de dormir, que se eu fosse lá olhar eu ia ver. Deitado no escuro, o Samuca queria continuar a brincadeira até o último momento. A Bebel dorme no mesmo quarto, então é sempre um momento delicado. Sussurrando, combinei que ia fazer um sinal e contar para ele saber. E fiz. Depois foi a vez dele:
- Pai, olha pertinho para ver meu sinal.
- Eu não consigo ver. Faz e me conta.
- Se você olhar, você vai ver.
- Mas está escuro. Faz e me conta.
- Se você olhar, você vai ver!
- Eu não consigo, filho.
- Pai!
- Ah, "se você olhar, você vai ver"! Esse é o seu sinal?
- É, pai.
- Claro. Vou ver. Boa noite, filho.
E, milagrosamente, parece que vou mesmo. O silêncio reina neste lar. Não sei se tem a ver com ficar sempre no escuro, sempre em silêncio tateando e tentando não pisar nenhum brinquedo para não acordá-los ou se é algo mais profundo, mas a metáfora mexeu comigo: "ser pai é fazer sinais no escuro". Se você olhar, você vai ver.

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