Caleidoscópio
O vô José chama o Samuel de veínho. Esses dias, o Samuel disse para ele: “eu sou o veínho, você é o veião!”. A tia Tatiane
falou para o Samuel: “nossa, mano! ”. O Samuel disse para mim: “eu sou o
mano da tia Tati!”. E ele é. Assim como é o Samu das tias da escola, o
Muca do papai, o Samy da vovó Cecilia.
Mario de Andrade escreveu: “Eu sou trezentos, sou
trezentos-e-cinquenta”. É assim que eu me sinto. E fico pensando que
privilégio que é poder ver, mesmo que de relance, os outros duzentos-e-noventa-e-nove Samueis que ele começa a construir além do Samuel-filho.
Da mesma maneira como eu nunca conhecerei a Mariana
professora e como ela é quando está sozinha com seus alunos, eu nunca
conhecerei vários Samueis. Nem acho que deva conhecer todos os Samueis e
todas as Maris. Mas vislumbra-los, ter esse gostinho de ver que a
Mari-professora é querida pelos alunos, de ouvi-la contando como foi o
dia e ler depoimentos de alunos e mães, ter o gostinho de ver que o
veínho presta atenção nas estórias do cavalo voador do vovô, que se
empolga mais de “roubar” as frutas da geladeira da vovó quando está
junto com o Davi, de ouvi-lo contar tudo que faz junto com o tio Lucão e com a tia Thais como se fosse a maior aventura... Que privilégio!
Talvez construir relacionamentos também tenha a ver com permitir que cada um seja trezentos-e-cinquenta, nos contentando em conhecer apenas um e admirando todos os outros meio à distância, como os mosaicos de um caleidoscópio, que se compõem ao mesmo tempo em que se transformam, pessoas que nunca conhecemos por completo. E talvez grande parte da beleza esteja justamente aí. Talvez seja esse mistério insolúvel o que nos permite nunca reduzir o outro a uma fórmula, nunca decifrá-lo, nunca poder falar por ele com total segurança e, talvez assim, nunca deixar de admirá-lo.
Talvez construir relacionamentos também tenha a ver com permitir que cada um seja trezentos-e-cinquenta, nos contentando em conhecer apenas um e admirando todos os outros meio à distância, como os mosaicos de um caleidoscópio, que se compõem ao mesmo tempo em que se transformam, pessoas que nunca conhecemos por completo. E talvez grande parte da beleza esteja justamente aí. Talvez seja esse mistério insolúvel o que nos permite nunca reduzir o outro a uma fórmula, nunca decifrá-lo, nunca poder falar por ele com total segurança e, talvez assim, nunca deixar de admirá-lo.
Samuca e Bebel - um site sobre infância, paternidade e tudo que acontece nessa relação entre pais e filhos. Escrito por Caio Moretto Ribeiro.