Mitologia: a versão de Sísifo

Samuel acorda às seis da manhã, faça sol ou faça domingo, e começamos a corrida: leite, fralda, mochila da escola, escova o dente, “não quero tirar a meleca do nariz!”, tranca a casa, coloca na cadeirinha do carro, “tem que colocar o sinto, Samuca!”, faz cocô, destranca a casa, troca a fralda, pega no colo, não quer colo, coloca no chão, não quer chão, tranca a casa, entra no carro, coloca o cinto, almoço, fruta, anda de “motoca”, quer fruta, suja a roupa, troca, toma banho, leite, dente, coloca para para dormir. Ufa! 

“Mamãe, me cobre?” A mamãe cobre.

“Me dá um beijo?” A mamãe dá um beijo.

“Mamãe, dá um cheiro”. A mamãe dá um cheiro: “Samuel agora é para dormir, a mamãe e o papai não vão voltar aqui no quarto.”

"Cof, cof... Quero água para não tossir”. A mamãe dá a água... dormiu!

Seis da manhã, toca o despertador.

Há uma teoria que diz que temos filhos para driblar a morte, que há um certo desejo de eternidade que não é possível realizar individualmente. Então, fazemos livros, filmes, prédios, esculturas e filhos. Seria nosso jeito de deixar uma marca, um rastro.

São essas as duas principais histórias de Sísifo que conhecemos: a do crime e a da punição. Ele enganou a morte e foi condenado ao trabalho eterno, empurrando para o alto de uma montanha uma pedra que rolava para baixo obrigando-o a recomeçar do zero no dia seguinte. A pergunta essencial, porém, esquecemos de fazer: será que Sísifo foi feliz? Valeu a pena?

Eu aposto que sim.

Samuca e Bebel - um site sobre infância, paternidade e tudo que acontece nessa relação entre pais e filhos. Escrito por Caio Moretto Ribeiro.

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