Mitologia: o anti-Midas
Samuca quebra tudo em que encosta. É um dom. É um pequeno anti-Midas,
que impede que tenhamos qualquer coisa de valor. Levei um mês para
construir um gol com canos de PVC para a gente jogar bola. Pintei,
comprei uma redinha, ficou show. Samuca achou por bem que seria legal
sentar nele. No primeiro dia.
O pior é que depois de um tempo
convivendo com um anti-Midas (você deve conhecer algum) a gente começa a
se culpar com o famoso “eu devia ter previsto”. Eu devia ter previsto que
ele desapareceria com os ícones do celular. A propósito, a capinha do
celular não protege contra mordidas. Eu devia ter imaginado que se uma
criança bate com uma colher no fundo de uma piscina inflável, ela fura.
Mas, no fundo, a gente sabe que é uma culpa meio besta, porque, apesar
de conseguirmos facilmente prever que algo será quebrado e alguma parte
do corpo será machucada, é impossível prever quando e como exatamente
isso irá acontecer. Anti-Midas são seres imprevisíveis e destemidos. Não
importa quantas vezes você tenha falado, ele sempre... “Samuel, não é
para subir sozinho na escada!”.
Anti-Midas são loucos por escadas. Ou escaladas. Ou qualquer atividade
que envolva subir na porta do armário da cozinha, puxar algo não
identificado que dá para puxar pela pontinha, se pendurar na gaveta ou
pisar nas caixas, nas mochilas, no laptop ou em qualquer coisa que ajude
a alcançar um pouco mais alto para pegar algo que estava no lá por um
bom motivo.
Apelidamos carinhosamente essa escalada do Hades de indoor parkour. É fácil identificar uma casa em que se pratica essa modalidade: as buchas estão todas brotando da parede numa linda primavera dos parafusos e as superfícies planas já não sustentam mais nada: o sabonete escorrega sozinho do apoio, as toalhas estão penduradas no box, porque o gancho se foi, e há uma decoração inexplicável com itens escondidos em cima da geladeira.
A lenda de Midas conta que ele quase matou a própria filha, Phoebe, transformando-a em ouro e se arrependeu. Acho que Phoebe deve ser a protetora das crianças, que criou esse toque anti-Midas para nos lembrar a cada instante que o valor que buscamos não é material. Mas, poxa, Phoebe, pega leve que nosso salário é de professor.
***
Tem também o mito da infância de Midas, que conta que, quando pequeno, o bebê Midas era chamado de Mirdinha, pois transformava tudo em que encostava em merda, mas acho que esse todos pais conhecem...
Apelidamos carinhosamente essa escalada do Hades de indoor parkour. É fácil identificar uma casa em que se pratica essa modalidade: as buchas estão todas brotando da parede numa linda primavera dos parafusos e as superfícies planas já não sustentam mais nada: o sabonete escorrega sozinho do apoio, as toalhas estão penduradas no box, porque o gancho se foi, e há uma decoração inexplicável com itens escondidos em cima da geladeira.
A lenda de Midas conta que ele quase matou a própria filha, Phoebe, transformando-a em ouro e se arrependeu. Acho que Phoebe deve ser a protetora das crianças, que criou esse toque anti-Midas para nos lembrar a cada instante que o valor que buscamos não é material. Mas, poxa, Phoebe, pega leve que nosso salário é de professor.
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Tem também o mito da infância de Midas, que conta que, quando pequeno, o bebê Midas era chamado de Mirdinha, pois transformava tudo em que encostava em merda, mas acho que esse todos pais conhecem...
Samuca e Bebel - um site sobre infância, paternidade e tudo que acontece nessa relação entre pais e filhos. Escrito por Caio Moretto Ribeiro.