Pipoca com leite

Esses dias, depois de pegar o Muca na escola, ele sentou no bancou e contou: “eu não comi o leite com pipoca, tava ruim”. Achamos estranho, trocamos olhares para ver se havíamos entendido a mesma coisa. Na dúvida, perguntamos de novo, mas a resposta foi exatamente a mesma: “o leite com pipoca tava ruim”. Não havia dúvidas das palavras utilizadas. A Mari resolveu, então, checar o cardápio do dia e leu em voz alta: sucrilhos! Rimos. Muito. O Samuel gosta de ver a gente rindo e riu também. A gente acha graça quando ele ri sem entender e rimos mais.

Depois de tanta risada, fiquei pensando. Será que se ele soubesse que era uma comida nova, ele teria achado ruim? Ele se assusta bastante com barulhos, mas quando a vó Cecilia ensinou que liquidificador faz “barulhão, barulhão, barulhão, ê!”, ele achou o máximo. É só ligar um liquidificador que ele canta. Ele não gosta de salsinha na comida, mas quando pega da horta da vó, ele come pura, só pela farra.

A questão, parafraseando Deleuze, é que ninguém gosta salsinha em abstrato. A gente deseja sempre um universo, a gente deseja comer a salsinha colhida da horta da vovó dando risada. O que o Samuca me fez pensar, no meio disso tudo, é que se abrir para o novo não é necessariamente experimentar o exótico, mas talvez apenas uma mudança de olhar ou um novo agenciamento. Em outras palavras, para experimentar o novo, talvez a gente precise se preparar, construir um novo ambiente, um novo jeito de ver, uma nova relação. Para viver o inesperado a gente precisa parar de tentar reconhecer o velho em tudo.

Quais serão as nossas “pipocas com leite”?

Samuca e Bebel - um site sobre infância, paternidade e tudo que acontece nessa relação entre pais e filhos. Escrito por Caio Moretto Ribeiro.

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