"É o papai"

Os primeiros dias com a Bebel não foram incríveis. "É o papai, Bebel. Acalma, filha". E nada, o choro só aumenta. Ela é linda e eu me sinto totalmente responsável por ela, mas os tempos da paternidade não seguem necessariamente o roteiro dos filmes de Hollywood. O amor não é necessariamente uma força incontrolável que nos captura subitamente e nos muda radicalmente. Há transformações que são mais lentas. Por mais que eu me sinta presente na vida dela, eu não gestei ela na minha barriga, eu não pari ela e eu não amamento ela. Isso significa que, em grande medida, eu não estabeleci com ela grandes relações afetivas, a não ser essa ideia abstrata de que eu sou pai e ela é filha. 

O Samuel já está com dois anos de idade. Ele é mais do que meu filho abstrato, ele é o Samuca. Temos um relacionamento único, construído e reconstruído a cada acontecimento que vivemos juntos. Lembro que comecei a me sentir um pouco como o pai que gostaria de ser quando comecei passar um tempo sozinho com ele. Aprendi como ele gostava de ser balançado, que música o fazia dormir, qual era o choro de fome e qual era a cara de coco. A Isabel ainda não se acalma quando eu a pego em meus braços e não responde ao som da minha voz. Ela só quer mamar. É frustrante. Até que... “Oi, Bebel! Que sorrisão gostoso! Acalmou? Você queria meu colo? É o papai!”.

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Samuca e Bebel - um site sobre infância, paternidade e tudo que acontece nessa relação entre pais e filhos. Escrito por Caio Moretto Ribeiro.

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